Sem riscos não há crescimento

“A dificuldade é o que desperta a genialidade”. A frase do filósofo e matemático líbano-americano, Nassim Taleb, célebre por seus estudos sobre cenários de incerteza e o papel da imprevisibilidade no sucesso das empreitadas humanas, é um interessante ponto de partida para refletirmos sobre o quanto a coragem para assumirmos novos desafios é decisiva para a construção de uma carreira de sucesso.

Certamente, você já viveu aquele frio na barriga diante de uma nova oportunidade de trabalho, de uma promoção, na abertura de seu primeiro negócio ou quando passou por grandes desafios pessoais.  Esses momentos despertam em nós tanto o entusiasmo e a motivação (própria da mudança em que se enxergam oportunidades) quanto a sensação de risco e adrenalina, que também fazem parte do processo de transformação.

Não à toa, é comum que um dos primeiros reflexos da estagnação na carreira seja a perda desse sentimento de euforia e da aceitação dos riscos inerentes a qualquer desafio. Seja porque não abraçamos novos objetivos em uma organização ou porque permanecemos em uma empresa com a qual já não compartilhamos valores e ideais de carreira − em troca da manutenção de uma suposta estabilidade − a tendência é que nossa jornada profissional entre em uma rota de monotonia e acomodação.

Suponha, por exemplo, que uma empresa resolva adotar uma postura conservadora diante de uma tendência de mercado. Essa postura não está certa nem errada, a princípio. A falha é achar que, ao ser mais conservadora, a companhia está eliminando os riscos. E se a tendência se tornar uma inovação que muda as perspectivas de um segmento? Nesse sentido, agir por medo (ou não agir) traz os mesmos riscos de uma atitude empreendedora.

Líderes precisam de coragem para avaliar as perspectivas de futuro de seu negócio, seja para eventualmente se posicionarem de modo contrário a stakeholders, seja para estimularem suas equipes a irem além.

Taleb, em sua obra mais conhecida, Antifrágil, explica que determinados elementos crescem quando expostos à volatilidade e à aleatoriedade. Eles “amam a aventura, o risco e a incerteza”, escreve o autor.

Certamente, um desses elementos são os grandes líderes, que mudaram e continuam mudando a forma como enxergamos o mundo. Afinal, o que é a inovação se não um processo de mergulhar no desconhecido?

Um estudo da Harvard Business Review aponta que cerca de 95% dos projetos de inovação falham. Outra pesquisa, da McKinsey, indica que o mesmo ocorre com 70% dos projetos de transformação digital. Isso por acaso tem impedido empreendedores de criarem startups ou de grandes companhias investirem em inovação? A resposta, definitivamente, é não.

De 2016 a 2020, o volume de empresas que colocou dinheiro em open innovation cresceu 1.900% no Brasil, segundo dados da 100 Open Startups, enquanto, de 2011 a 2019, o número de startups no país cresceu em 20 vezes, de acordo com a Abstartups.

Três razões embasam esse movimento:

  • Dentro dessa porcentagem enxuta de sucesso pode residir o novo Uber, o novo Airbnb, o novo Spotify, o novo Nubank ou o novo iFood;
  • É possível conduzir projetos de inovação a partir de pequenos núcleos no qual se desenvolvem projetos mais ousados (e arriscados) de experimentação, com investimento menor, enquanto a organização como um todo segue com inovações incrementais, mantendo maior controle sobre os riscos;
  • A exposição de funcionários a projetos criativos e a situações desafiantes aumenta a fidelização de talentos, especialmente os das novas gerações, que são atraídos por missões e objetivos, não por estabilidade.

Minha proposta é que repensemos a forma como enxergamos os riscos. Afinal de contas, o medo da mudança e do novo entram em rota de colisão com a cultura mercadológica contemporânea – a da busca constante pela disrupção.

 

Este artigo foi publicado pela Think Work.