Poucas coisas definem mais a existência humana do que a inquietude, a busca por anseios que nos movem no decorrer de uma vida. Mas, ao longo desse caminhar, é natural (e saudável) que nos deparemos com momentos de dúvida nos quais passamos a refletir sobre nossas escolhas. Tais períodos de análise, por sua vez, são essenciais no contexto de um processo de análise mais profundo que pode nos levar, inclusive, rumo à descoberta de nosso verdadeiro propósito existencial.
Para tanto, podemos – e devemos – nos abrir para o autoconhecimento e, em suma, para o movimento transformador que ocorre quando nos abrimos para a experiência de novos saberes e vivências. E tal rota pode ser percorrida a partir de diferentes vias que se auto complementam: da leitura de livros de autodesenvolvimento e dos insights que podemos extrair em filmes e na arte; a um processo mais orientado com o suporte de profissionais especializados.
Nesta segunda esfera, temos visto, ao longo das últimas décadas, o crescimento do trabalho de coaches e mentores que, a partir de metodologias nascidas do resultado de diferentes pesquisas sobre campos como psicologia, comportamento humano e liderança, tem apoiado muitos profissionais e pessoas ao redor do mundo, seja na resolução de pontos mais específicos referentes, por exemplo, aos desafios de uma carreira; seja no âmbito de questões mais abrangentes e complexas, como a investigação dos propósitos de uma vida.
Não por acaso, de acordo com dados da ABMEM (Associação Brasileira dos Mentores de Negócios), o número de mentores disparou 78% nos anos de 2019 e 2020 no Brasil; ao passo que a pesquisa ICF/PwC apontou crescimento global de 33% no número de coaches. Os dados, foram divulgados no fim de 2020, são disponibilizados a cada 4 anos e atestam ainda que, já em 2019, o setor movimentou US$ 2,8 bilhões com uma expressiva expansão de 107%.
Mas quais as diferenças entre tais práticas e como elas podem, de fato, contribuir para a transformação de histórias profissionais e de vida?
Definindo (e diferenciando) coaching e mentoring
Você já teve a sensação de ter as respostas para suas perguntas, mas não conseguir encontrar os caminhos para transformá-las em ações efetivas? Um dos principais trabalhos de um coaching consiste, justamente, em mapear essas rotas e direcionar seus clientes em prol de um sentido claro para o alcance de resultados planejados. É uma metodologia de movimento e desenvolvimento na qual, a partir de técnicas e tarefas específicas, somos guiados a sair de um ponto a (estado atual) para um ponto b (nossas metas), sejam elas profissionais ou de um âmago mais profundo de nossas vidas.
Em termos objetivos, o ICF (International Coach Federation) explicita que o processo de coaching consiste em um verdadeiro e genuíno movimento de “parceria com o cliente, através de um processo estimulante e criativo que o inspira a maximizar o seu potencial pessoal e profissional”. O ICF aponta ainda que, apesar de estarmos tratando de uma metodologia que evolui continuamente e se aprimora guiada pelo eixo da transformação contínua, o coaching tem como alicerce uma base conceitual sólida que orienta profissionais ao redor do mundo, a qual é difundida em algumas das principais instituições educacionais do mundo, incluindo os programas de Coaching de Columbia, por exemplo.
Além de tal amplitude, os processos de coaching têm também um viés prático: nas primeiras sessões são definidos prazos e objetivos para a análise de pontos de aprimoramento até que o cliente alcance suas metas mais amplas. Estamos falando, em suma, de uma parceria continuada que visa um desenvolvimento holístico, tanto em um plano de realização profissional quanto dos anseios pessoais do cliente.
Para tanto, os coaches devem desenvolver, dentre outros skills, a capacidade da escuta ativa, da análise das dores/anseios de seus orientados, de modo a fomentar a formação de líderes e indivíduos capazes de trilharem jornadas efetivas rumo aos seus objetivos mais essenciais.
Quando falamos do mentoring, por sua vez, estamos diante de um processo que cresceu de modo exponencial no contexto presente do mercado, haja visto, por exemplo, a escalada de processos de aceleração corporativa e diálogo entre startups e grandes empresas, que têm ganhado relevância no ambiente de negócios contemporâneo consistindo, de modo bem objetivo, na orientação/tutoria de profissionais que, a partir de uma ampla bagagem dentro de um determinado campo de conhecimento, podem apoiar jovens colegas da mesma área ou profissionais interessados em ampliar seu know-how.
Para elucidar esse cenário, uma mentoria pode ser conduzida por um profissional com amplo domínio de design thinking para novos profissionais do mesmo setor que estão passando por um processo de aculturação em nova organização ou até mesmo na transformação cultural da empresa onde atua. Em outro exemplo, temos mentorias conduzidas por especialistas para todos os colaboradores de uma empresa sobre inteligência emocional, comunicação efetiva, técnicas de apresentação etc., além da mentoria para profissionais e líderes para que possa alavancar suas carreiras, apoiados na experiência executiva ou consultiva do mentor. Em suma: o mentoring trata, dentre outras questões, da aquisição de skills direcionados e da resolução de desafios específicos do dia a dia profissional.
Vale salientar que, diferentemente dos coaches, os mentores não necessariamente precisam de certificação, uma vez que o que conta, sobretudo, nos processos de mentoring é a experiência vivida e testada, o conhecimento sobre os desafios do universo corporativo e uma carreira consolidada que inspire os colaboradores no seu movimento de evolução profissional.
Como essas práticas se complementam e podem apoiar a construção de uma carreira vitoriosa?
Ao analisarmos esses conceitos com a devida minúcia, não é difícil perceber os pontos de intersecção entre eles e como a atuação em conjunto de ambas as práticas podem acelerar uma jornada de transformação e de conquista de objetivos.
Ora, enquanto o coaching assume uma perspectiva mais holística e ampla da vida profissional e dos objetivos existenciais, nos auxiliando a desvendar os caminhos que nos levarão para uma verdadeira jornada de transformação e conquista de nossos verdadeiros sonhos; os processos de mentoria nos apoiam nas conquistas diárias de uma carreira, pela ampliação de conhecimentos, troca com profissionais mais experientes e na aceleração da aprendizagem de competências. Mas conversando com profissionais e consultores do mercado, ambos disseram que utilizam tanto técnica de uma quanto de outra metodologia em seus encontros com os mentees e coachees. É o que chamamos de um mix “Mentor Coaching”.
Vale frisar que, assim como o coaching, os processos de mentoring se baseiam em um vasto know-how de perspectivas, estudos e conceitos que direcionam os objetivos de uma tutoria plenamente eficaz. A partir da metodologia dos 4C’s, criada por nós na LadyMorais Human Capital, por exemplo, a mentoria abarca as 4 grandes dimensões de uma trajetória profissional:
- A carreira de modo amplo com seus dilemas e desafios;
- A compreensão de si mesmo e de seus propósitos;
- A cultura, o contexto e a influência dos ambientes de trabalho em um processo de desenvolvimento;
- E a conectividade que indica o papel do networking, empatia e comunicação para a consolidação de uma trajetória e para a formação de redes de troca de conhecimento e experiências.
Em nossa metodologia, como se vê, coaching e mentoring são estratégias que se alinham diretamente para a construção de uma vida (profissional e pessoal) guiada pelo propósito, fornecendo uma base central sólida para a plenitude de cada indivíduo. Afinal de contas, como bem observou o ensaísta e historiador britânico Thomas Carlyle, uma vida sem propósito é como um navio sem leme e, a partir de tais suportes, você poderá assumir as rédeas de seu destino.
