O Raio-X das lideranças em um mercado digital e ágil

O mercado contemporâneo está imerso no paradigma da mudança. Impulsionado pela difusão tecnológica, pela entrada de novos modelos de negócio que assumem um protagonismo central no desenho das tendências de consumo, por espaços e modelos de trabalho mais fluidos, e por novas gerações de mentes criativas que, dialogando com o legado de empresas e profissionais experientes, constroem, neste conjunto social dinâmico, o futuro; temos, diante de nós, um ambiente econômico que se traduz por um movimento efetivo de transformação digital.

Para termos uma perspectiva mais clara deste cenário, é interessante observarmos, por exemplo, que para a maioria dos CEOs do mercado, a digitalização de suas empresas teve um impulso decisivo em 2020, avançando em meses e até anos, comparado com o ritmo que vinha sendo imposto até 2019. Essa é a conclusão de 67% dos executivos ouvidos pela pesquisa CEO Outlook 2020 da KPMG.

Além disso, 87% dos CEOs afirmaram que esta aceleração motivou a criação de novos postos de trabalho com colaboradores aptos a lidar com novas tecnologias, inteligência artificial e sistemas de automação.

Dentro de todo este contexto ágil de mudança, uma das perguntas que ressoam no mercado é: quais o perfil das lideranças neste ambiente que abre oportunidades, mas também impõe desafios e demanda novas habilidades de gestão?

Desafios gerenciais e oportunidades no contexto da digitalização

 Para tentarmos responder a essa pergunta, antes de tudo, vale a pena refletirmos sobre quais são, afinal, os principais desafios no plano gerencial e as oportunidades que surgem neste cenário de quebra de paradigmas mercadológicos para os líderes que estão assumindo a proa de todo este processo.

Analisando o tema em pesquisas e veículos especializados, vê-se, primeiramente, que o próprio movimento de transformação digital, per se, traz consigo todo um hall de questões culturais que precisam ser superadas para que todos os benefícios da inovação sejam, de fato, absorvidos pelas empresas.

Uma pesquisa da startup Sambatech divulgada este ano aponta, por exemplo, dificuldades das empresas em saber por onde e como começar a se digitalizar, aliada a falta de colaboradores com habilidades necessárias e ao conflito do legado tradicional da tecnologia versus a entrada de novas soluções mais disruptivas que, consequentemente, exigem também novos skills e abordagens de implementação.

Na perspectiva dos líderes da área de recursos humanos – que, por sua vez, também assumem um papel crucial dentro de um contexto de busca por novos colaboradores, gestão de diferentes modelos de trabalho e adaptação das equipes a este panorama de imersão digital – insights valiosos foram levantados pela Think Work em estudo sobre as relações das HR Techs (soluções e startups voltadas para o RH) com o universo tradicional dos recursos humanos.

Segundo o report, quase 50% do mercado ainda não investiu no relacionamento com startups para apoiar a transformação da área de recursos humanos e, dentre as pedras no caminho, são destacados, novamente, aspectos culturais de resistência a mudança, incluindo desde a impossibilidade de mudança de processos para adequação digital até a dificuldade de implementação tecnológica que, não por acaso, se relaciona com a falta de colaboradores com skills para lidar com os desafios de um mercado digital.

E aqui entra um dos principais atributos das lideranças. Pessoas não são seres estáticos, mas que se desenvolvem e que são capazes de absorver os skills (soft e hard) que o novo mercado demanda. Neste sentido, fomentar ambientes que favoreçam as trocas culturais, a difusão de conhecimento e a abertura para aqueles que estão dispostos a se engajar na construção do futuro é uma prerrogativa que, na minha visão, irá contribuir de modo significativo com o sucesso dos líderes.

O perfil das novas lideranças

E tratando do perfil destas novas lideranças, temos também de ter em mente que estamos vivenciando um mercado em que a diversidade de modelos de negócio é plural e dinâmica.

Das startups as empresas tradicionais, das deep techs (com modelos saídos das universidades e que trabalham a inovação de base) a uma indústria 4.0; cada uma, a sua maneira, exigindo diferentes domínios que tiram os gestores de suas zonas de conforto, mas que, ao mesmo, abrem uma série de possibilidades de aprendizado, troca e vivência.

Feito este parêntese, quando observamos com mais atenção as características das lideranças contemporâneas, notamos que alguns mitos do mercado são rapidamente quebrados. Um deles é o que associa a experiência e a maturidade como uma força que nada contra a inovação.

Um estudo do mercado nos Estados Unidos da American Economic Association, aponta, na verdade, uma perspectiva oposta. Segundo a pesquisa, a maioria dos líderes das empresas inovadoras mais bem-sucedidas tem, em média, 45 anos e, neste sentido, são profissionais que já contam com uma jornada relevante em seus respectivos setores de atuação.

Por outro lado, também é importante frisar que a entrada dos nativos digitais no mercado de trabalho é mais um ponto que deve mover as lideranças: extrair o melhor de cada colaborador, efetivar ambientes em que o diálogo geracional jogue a favor das empresas e formar novas lideranças deve entrar no radar de aptidões das lideranças do presente e do futuro.

Vale ainda citar que, dentro do perfil das lideranças atuais, uma pesquisa da Talenses Group junto à Fundação Dom Cabral listou que as características essenciais envolvem sobretudo soft skills, incluindo a boa capacidade de comunicação, de gerir pessoas, de saber descentralizar decisões e estimular a empatia, além da resiliência e da capacidade de motivar equipes em cenários de incerteza – e a incerteza, certamente, faz parte de qualquer movimento mais robusto de transformação.

A transformação cultural como pilar

 Com tudo isso, penso, por fim, que a principal lição que extraímos deste cenário é a de que a digitalização nas empresas passa, sobretudo, por uma transformação cuja base é cultural. E os líderes, ao mesmo tempo em que buscam promover a adaptação de seus colaboradores a este universo disruptivo, devem se manter abertos para, internamente, também abraçar o novo.

Pois, como diria Heráclito, nada é permanente, exceto a mudança.

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