Nossa vida é permeada por relações, sejam elas passageiras como uma brisa de verão ou duradouras como uma árvore que germina frutos ao longo de anos. Mas, independentemente de sua continuidade, acredito piamente na importância desses encontros para o nosso desenvolvimento e penso, justamente, que relações positivas são as relações transformadoras – quando carregamos algo do outro conosco e algo de nós fica com aquele que, por algum momento, cruzou nossos caminhos.
Reflito sobre as relações humanas para construirmos, juntos, uma análise sobre a questão do legado de uma liderança. O que é um bom legado para você? As metas alcançadas no decorrer de um ano desafiador? A condução de projetos importantes para a realidade da organização? Índices de excelência sobre a produtividade de suas equipes?
Sem dúvida, o conjunto dessas conquistas – objetivas, mensuráveis, capazes de assegurar a eficiência de um gestor – são indispensáveis dentro do contexto de qualquer companhia e da carreira de quem ambiciona grandes feitos para sua história. Mas liderança e legado têm a ver também com elementos intangíveis que, não por acaso, estão na base das relações humanas que se constroem em uma empresa.
Considerando esse pressuposto, você sabe, por exemplo, quantas pessoas inspirou até o ponto atual de sua carreira? Quantos novos líderes decidiram seguir esse caminho a partir de sua influência? Você se preocupa em dividir novos conhecimentos, em engajar suas equipes ou simplesmente em fazer com que cada um dos seus colaboradores se sinta ouvido e valorizado pelo trabalho que realizam?
Tais fatores, para mim, é o que diferencia um líder eficiente de um líder inesquecível; aquilo que separa um líder que atenda as expectativas e um líder que surpreende e supera anseios; e, por fim, são princípios que estão na essência do líder transformador, do líder que inspira confiança e movimento, que motiva e tira da zona de conforto. Não é, nesse sentido, uma coincidência o fato de que, para 80% dos gestores de recursos humanos, a confiança nos líderes está diretamente relacionada com os índices de engajamento de uma organização.
A transformação se dá em múltiplas vias
Dito isso, um dos maiores motivos de orgulho dentro de minha trajetória como líder não se resume a aquilo que deixei nas empresas em termos de objetivos conquistados ou mesmo o legado intangível que comento acima, mas sim, saber que, enquanto contribuí, de alguma forma, para a transformação de vidas profissionais, eu também me transformei; também fui inspirada pelo exemplo de pessoas (outros líderes e muitos colaboradores); também aprendi e também carrego comigo novos conhecimentos –, aliás, como bem disse Paulo Coelho, conhecimento sem transformação não é sabedoria.
Em outras palavras: o legado é tanto aquilo que oferecemos para o mundo, quanto o que dele absorvemos para o nosso crescimento profissional e como seres humanos. Daí a importância da empatia, da capacidade de não subestimarmos as fontes de aprendizado – não importa se aquela valiosa lição vem do CEO de uma empresa ou de um simples estagiário que está começando a sua caminhada no mundo corporativo –, de valorizarmos nossas relações com todos aqueles que cruzam nossos caminhos e de sabermos ouvir e dividir.
Pois, no fim, empresas nada mais são do que ecossistemas humanos. E, para além dos títulos, números e nomenclaturas, a essência de nossas conquistas de carreira também se firmará em uma base relacional, a partir de pessoas que podem abrir novas perspectivas em suas vidas a partir de nossa influência e modificar os rumos de nossa própria jornada.
Sim, há muitas perspectivas para o legado de uma liderança. Mas, quando passamos a enxergar com mais atenção as pessoas que apoiam e se transformam a partir desse legado, temos, nós mesmos, mais chances de evoluir.