No dia 5 de novembro, o Brasil inteiro se emocionou com a passagem para o plano espiritual de Marília Mendonça, essa jovem mulher que, em sua curta trajetória entre nós, deixou tantos frutos e conseguiu nos cativar de modo único, seja por sua voz inesquecível; seja pelo fato de ser uma mulher forte, poderosa e ao mesmo tempo humilde; seja porque saiu do anonimato para se tornar uma estrela e inspirou, desde os 14 anos, outras centenas de artistas que, como ela, carregam o sonho de se conectar com o povo através de suas canções e de sua arte.
Refletindo sobre o caso ao longo dos últimos dias — tão trágico e que causou uma comoção natural no país e em diversas partes do mundo — escolhi enxergá-lo pelo prisma do brilho, simplicidade e legado tão inspirador que Marília nos deixou, com a certeza de que, hoje, Marília está sorrindo e continuará se comunicando conosco por meio de seus versos que não escolhiam cor, classe social, raça, idade ou credo. Eram versos que acalentavam a todos e que traziam uma mensagem capaz de dialogar com cada um de nós.
O fato é que Marília conseguiu conquistar algo raro: um sentimento de unanimidade que fez com que artistas dos mais diversos gêneros (de Caetano Veloso a Anitta; do Padre Fábio de Melo aos cantores sertanejos de todas as gerações), atletas, personalidades públicas e o povo, em geral, chorassem a sua partida, mas também se lembrassem, com carinho, dos passos de sua trajetória inspiradora que começou aos 14 anos, como se Marília quisesse ver, o quanto antes, as sementes de seu trabalho germinarem em prol da construção de um legado. Marília tinha pressa, mas, acima de tudo, todo o talento, carisma e empatia que um ser humano pode carregar.
E todas essas virtudes são tão essenciais para um líder, não é mesmo? Por isso, penso que, ao longo de nossas jornadas, devemos nos questionar continuamente sobre quem e de que forma estamos inspirando as pessoas; que legado estamos construindo e quais ensinamentos estamos deixando; que transformações podemos difundir e mediar.
Afinal de contas, de que valeria o trabalho e a superação de tantos desafios que fazem parte de nossa carreira sem um propósito? E o sucesso, no fim das contas, é tão somente o resultado desse direcionamento embasado em valores, mas a grande conquista de todo esse processo, como também ensinou Marília, é a capacidade que temos de compartilhar nossas vitórias, pois, como diria um grande amigo e presidente do Grupo Hinode — empresa na qual trabalhei —, Sandro Rodrigues, o sucesso só vale se for no plural.
Essa generosidade e a certeza de que o sucesso era algo construído em conjunto pareceram guiar a carreira brilhante de Marília Mendonça, que dividiu o palco com inúmeros artistas, compartilhou composições e abraçou projetos e parcerias que trouxeram ainda mais iluminação para sua caminhada tão vencedora.
Com tamanho carisma e talento, Marília poderia ter escolhido caminhar sozinha e concentrar os holofotes em si, mas preferiu seguir, sabiamente, o mantra do “sonho que se sonha só, é só um sonho que se sonha só; mas sonho que se sonha junto, é realidade”, para citar outro poeta da música brasileira.
Traçando outro paralelo com a liderança, esse senso de compartilhamento e generosidade é outra virtude essencial dentro de uma carreira. O líder inteligente não só valoriza suas equipes, mas projeta a todos por meio de conquistas que têm a marca de cada um dos talentos que trabalham conosco. Nunca devemos esquecer que o bom líder não é um solista, mas o regente de uma orquestra que precisa de todos para fluir harmoniosamente.
Outra das características de Marília que muito admiro era o fato de sempre valorizar suas origens. Como eu, a jovem cantora era goiana, sertaneja, caipira e tinha — como eu tenho — imenso orgulho das bases que lhe permitiram crescer para o mundo.
Marília gerou, sem dúvidas, um sentimento de unanimidade que, na minha visão, advém não só de seu sucesso e talento, mas também da empatia que irradiava, do amor que parecia transmitir em tudo o que fazia e da certeza sobre seus propósitos. Esses são os elementos que formam grandes lideranças e, por isso, acredito, que devemos buscar gerar esse mesmo sentimento em nossas carreiras: não pelo medo do julgamento ou perfeccionismo. Todos somos imperfeitos e a liderança é imperfeita, mas se buscarmos a unanimidade, muito provavelmente, seremos inspiração para muita gente, luz para muitas carreiras e formaremos muitos sucessores.
E foi isso que Marília Mendonça fez a partir de um legado artístico inesquecível. Sejamos mais como Marília, difundindo a luz da inspiração que transforma carreiras, vidas e histórias em uma jornada contínua de crescimento.