Qual será o futuro das estruturas de trabalho e do ambiente corporativo?
A julgar pelos princípios que regem a educação – fonte primeira para a formação dos líderes do amanhã – e os novos processos de recrutamento no Brasil e em grandes economias do mundo, estamos vivenciando um período que tem na colaboração um dos principais pilares da cultura empresarial.
De um lado, metodologias como a dos 4 Cs – critical thinking (pensamento crítico), collaboration (colaboração), communication (comunicação) e creativity (criatividade) –, desenvolvida pela National Education Association (NEA) para a educação básica, devem fomentar uma nova geração de profissionais para quem o crescimento na carreira caminha em conjunto com uma visão mais cooperativa e empática de atuação no ambiente corporativo.
Em outra vertente, a busca por talentos nas organizações – cada vez mais pautada no eixo das chamadas soft skills (habilidades comportamentais que incluem, também, uma visão do trabalho enquanto espaço colaborativo) – ditam os pilares atuais de um contexto mercadológico no qual a colaboração solidifica uma nova perspectiva para as relações humanas e entre corporações, stakeholders e ecossistemas de consumo. Como veremos ao longo deste artigo, as possibilidades de troca cooperativa se estendem, inclusive, para além dos muros de uma companhia.
Colaboração como princípio
Fato é que, ao observarmos o ambiente de negócios atual, é difícil não enxergar as raízes colaborativas ganhando terreno. Pensando no contexto interno das organizações, dados compilados em 2022 pelo portal americano UC Today apontam que nada menos que 75% dos empregadores enxergam a cooperação como essencial para o dia a dia corporativo.
Essa perspectiva, por sua vez, tem impulsionado o surgimento de ferramentas de integração entre os colaboradores. A Gartner mapeou, em 2021, um crescimento de 44% na busca por soluções colaborativas nas empresas, ao passo que 80% dos trabalhadores já utilizam alguma tecnologia para facilitar processos de cooperação.
Mas a colaboração, hoje, avança em diferentes frentes do mercado, como nas parcerias entre grandes companhias e startups – basta vermos, nesse sentido, o crescimento dos projetos de inovação aberta, focados no desenvolvimento de projetos de disrupção colaborativa e que cresceram mais de cinco vezes até 2021, segundo a Open Startups – ou na integração empresas e núcleos de pesquisa nas universidades, conforme atestou um levantamento da Unicamp de 2019.
Assim, desenvolver skills colaborativos se coloca como uma necessidade para quem deseja construir uma carreira de sucesso dentro de um universo corporativo mais plural, aberto e inclusivo. Ato contínuo, estimular uma cultura de cooperação é uma demanda para as lideranças que desejam atingir resultados operacionais, lapidar talentos, fortalecer a cultura e gerar negócios nesse ambiente mais dinâmico e digitalizado.
Os benefícios de uma cultura colaborativa
Mas todo o discurso colaborativo não ganharia eco no mercado se não gerasse resultados. Uma pesquisa da empresa canadense Advantage Group, de 2022, destacou, dentre outros pontos, que as parcerias entre os diferentes players que compõem uma cadeia de consumo melhoram a performance de negócio de todos os agentes envolvidos no mercado.
Já de acordo com dados compilados pela empresa de recrutamento Zippia, também no ano passado, ambientes organizacionais mais colaborativos melhoram em cerca de 17% a satisfação dos colaboradores nas empresas e podem contribuir com uma redução de até 50% no turnover.
Naturalmente, ainda há muito espaço para desenvolvimento – também segundo informações reportadas pela UC Today, 39% dos profissionais acreditam que seus ambientes de trabalho não são cooperativos o suficiente. Na minha visão, podemos enxergar esse desafio sob duas perspectivas:
- A primeira é a de que estamos passando por um período de transformações profundas do ponto de vista cultural e que essa mudança realmente não se pavimenta do dia para a noite. Nesse sentido, é preciso termos em mente que, por muito tempo, a ideia de competição pura e simples foi o principal carro-chefe que moveu o mercado.
- A segunda envolve o papel das lideranças, no sentido tanto de prover ferramentas que otimizem os processos de colaboração nos negócios, quanto em relação a fomentar uma cultura cooperativa.
O caminho do equilíbrio
Aqui, por fim, não se trata de ignorar o papel da competição no mercado e na construção de carreiras, mas simplesmente de entendermos que fortalecer diferenciais competitivos não significa fechar as portas para parcerias ou mesmo deixar de contribuir com o crescimento do outro.
Não por acaso, internacionalmente, o conceito de competição colaborativa (coopetition) tem avançado e descreve as parcerias e pontes que eventualmente podem ser desenvolvidas, inclusive, entre concorrentes diretos.
Seja qual for o caminho, uma coisa é certa: a cooperação, mais do que simples altruísmo, desponta como um dos principais paradigmas de um novo mercado em que as fronteiras dão lugar, gradativamente, à soma de forças em prol de maiores conquistas.
Este artigo foi publicado pela revista Gestão RH.