Na primeira quinzena de março de 2020, como medida de combate a uma das maiores pandemias da história, o Brasil entrou em sua primeira fase de isolamento social.
À época, é possível deduzir que poucos imaginavam que viveríamos quase dois anos em um novo contexto que remodelou as relações humanas, a forma como enxergamos os cuidados com a saúde (física e mental) e com o próximo e, do ponto de vista econômico, fez eclodir uma série de transformações nas dinâmicas de trabalho e na forma como empresas de todos os segmentos e portes passaram a enxergar o papel da tecnologia em suas realidades.
Foram meses de muitos desafios, dor pelas famílias que tiveram de conviver com o luto, impacto em milhares de negócios pelo país e pelo mundo, mas também de muita superação pela vida, aprendizado, solidariedade e empatia, as quais demonstraram que, mesmo a distância, podemos nos unir para vencermos esse momento tão difícil e único que ficará marcado em nossas trajetórias.
Ressaltar a conquista desses valores é especialmente importante nesse momento de retomada e reabertura que, em São Paulo e outras grandes cidades do Brasil e do mundo, passa a ser pleno – ainda que com a manutenção do uso de máscaras e outras medidas sanitárias.
É importante, antes de tudo, termos em mente que a pandemia não acabou. Alguns países da Europa, incluindo a Alemanha, por exemplo, vivem uma nova onda de Covid-19 que continua expondo a população a riscos, mesmo diante do avanço mais massivo da vacinação.
Isso não significa, claro, que não devemos comemorar os números positivos (queda exponencial no número de casos graves e mortes; fortalecimento de indicadores econômicos; abertura de novos negócios) que trazem luz para a sociedade depois de meses extremamente desafiadores; mas essa alegria deve ser compartilhada com responsabilidade e cuidado.
Em outras palavras: tudo aquilo que absorvemos de conhecimento sobre formas mais colaborativas e empáticas de encararmos nossas existências enquanto cidadãos de uma comunidade global, não pode ser abandonado ao relento e, por mais que seja justificada a ansiedade de voltarmos a vida “como era antes”, cada passo dessa retomada precisa levar em conta o impacto que causamos no outro e em nossas comunidades.
O contexto brasileiro
O avanço na vacinação no Brasil, sem dúvidas, já começa a trazer resultados animadores. De acordo com dados do consórcio dos veículos de imprensa do dia 24/11, mais de 61% da população brasileira já recebeu duas doses de alguns dos imunizantes que estão sendo aplicados no país. O avanço coincide, por sua vez, com a queda no número de casos que, segundo o jornal O Globo, registrou na última quinta-feira (25/11), um novo decréscimo de 17% em relação ao índice da primeira quinzena do mês.
Por outro lado, temos de nos atentar para dois fatores importantes:
- Há todo um contingente populacional que ainda precisa se imunizar plenamente no país (isso sem falarmos na terceira dose das vacinas para a população que ainda está em sua fase inicial e chegou a 12,1 milhões de pessoas ou 5,6% da população);
- Vivemos em um mundo globalizado em que quase 61% da população ainda não está imunizada, ponto que exige cuidados para novos picos da Covid-19 como os que vêm ocorrendo em alguns países europeus, conforme comentei anteriormente.
Diante desse cenário, acredito sobretudo no caminho do equilíbrio e da responsabilidade cívica: embora não precisemos (e nem seja desejável para o bom retorno da economia) retornar às fases mais severas do isolamento social, é mais do que justo que continuemos tomando as devidas precauções sanitárias até que a pandemia esteja, de fato, controlada.
Colhendo frutos dos aprendizados
Por fim, volto a reforçar a importância de colhermos o que de positivo foi possível absorver dentro de um cenário tão avassalador: o aprendizado. E tal ponto vale tanto em relação a valores de convivência e empatia, mas também no que diz respeito às novas possibilidades para a economia que se mostraram viáveis no Brasil e no mundo.
O “work from anywhere”, por exemplo, se mostrou uma tendência desejada por talentos e recrutadores, assim como o trabalho híbrido que, segundo a Great Place to Work (GPTW) será a grande força motriz das relações corporativas no país ao longo dos próximos anos. A ThinkWork, por sua vez, destacou na pesquisa Trabalho Híbrido e Remoto nas Organizações no Brasil, que 36% das organizações desejam manter o trabalho híbrido para todos os colaboradores, ao passo que 46% das empresas consultadas no levantamento destacaram que vão utilizar o teletrabalho para uma porcentagem que varia de 25% a 75% de seus times.
Isso sem falarmos no progresso da digitalização nos ambientes organizacionais que, há muito, já batia a porta; em novas modalidades de ensino a distância (mais imersivas e dinâmicas) que trazem mais independência, engajamento e democratização para o ambiente educacional; e na formação de times multiculturais globalizados que quebraram as fronteiras dos escritórios tradicionais.
Tendo isso em mente, poderemos olhar para o ontem, hoje e amanhã com mais otimismo, respeito e com a certeza de que estamos construindo um caminho responsável para a tão deseja reabertura social, a qual, na minha visão, não será a da “vida como era antes”, mas sim, das novas oportunidades de um futuro mais humanizado e inovador.