Com 2023 batendo a porta, mais do que pertinente, a reflexão sobre a importância do planejamento estratégico para o crescimento das organizações abre também espaço para que possamos avaliar como a construção de caminhos para o futuro está também ligada a capacidade de adaptação, resiliência e a arte de saber agarrar oportunidades e superar desafios que surgem ao longo de qualquer novo ciclo econômico.
Sim, pois, assim como em nossas vidas, o legado de uma empresa e os passos de sua história se direcionam a partir de um equilíbrio entre objetivos traçados, disciplina para que possamos trilhar o caminho rumo a essas metas com processos e ações bem definidas, além da flexibilidade que nos torna aptos a contornar as curvas dessa trajetória.
Tais pressupostos são especialmente verdadeiros quando pensamos no contexto disruptivo e nas transformações sociais, econômicas, tecnológicas e em modelos de gestão e de negócio que, indubitavelmente, exigem das corporações e de seus líderes um processo de planejamento contínuo, recalibrado conforme as tendências e variantes que podem impactar um negócio, um segmento ou mesmo a economia em uma escala macro.
Nesse sentido, o planejamento precisa ser visto como um guia, um norte, um farol que manterá iluminado as ondas de um oceano em que navegamos, ora por águas calmas, ora por períodos de turbulência e águas turvas. Essa percepção, a meu ver, tende a contribuir para que as empresas sejam mais bem-sucedidas e assertivas no desenho de objetivos e, sobretudo, na implementação de estratégias para que eles sejam alcançados em 2023.
E, por falar em implementação, aqui se apresenta um dos primeiros desafios que companhias ao redor do mundo têm enfrentado: tirar do papel as metas de um negócio com visão de longo prazo. Em levantamento internacional da Cascade foi identificado, por exemplo, que enquanto 67% dos líderes acreditam que sua organização é eficiente em elaborar estratégias, menos da metade (47%) acredita que a companhia é boa em implementá-las.
No ambiente de negócios brasileiro, tal problemática é ainda mais obtusa, uma vez que, em um estudo com empresas que faturam até R$ 300 milhões por ano, a consultoria Falconi levantou que somente 10% delas possuem um planejamento de longo prazo. O que fazer para mudarmos esse cenário e, sobretudo, para mantermos espaços para a criatividade e eventual pivotagem dos planos para o amanhã já tão próximo?
A incerteza inerente e o oceano de dados
No meu entendimento, um primeiro passo envolve o entendimento, por parte das lideranças, que a incerteza, além de inerente, em maior ou menor, as nossas vidas e ao contexto de mudanças do mercado; ela pode também ser uma fonte para que possamos ampliar nossas defesas e expandir nossos diferenciais competitivos haja vista que, mesmo em cenários de crise, existem empresas que conseguem continuar se sobressaindo e mantendo sua respectiva relevância dentro de seus nichos de mercado.
Esse princípio de antifragilidade, aliás, é muito bem descrito pelo pensador líbano-americano Nassim Taleb, o qual afirma que a incerteza é algo presente, desejável e necessária para a evolução. Todavia, para que possamos fazer dos caminhos novas estradas, o planejamento deve se fazer presente e, embora não se exclua o fator incerteza da mesa, contribui para a robustez dos negócios, os quais se tornam mais resilientes para suportar cenários adversários e para abraçar oportunidades.
Em outras palavras, estamos falando de ferramentas que podem (e devem) convergir: afinal de contas, afirmar a incerteza não significa abrir mão do planejamento – o qual, aliás, conta hoje com o apoio de soluções analíticas que transformam o montante informacional de um negócio em fontes de conhecimento estratégico –, mas sim, que esse plano é mais aberto, maleável e inteligente para a conjuntura atual da era das transformações.
O acompanhamento contínuo de cada dia
Atrelado ao equilíbrio realista entre a compreensão do cenário externo e a construção de ações e estratégias para o futuro, é crucial observarmos ainda que todo planejamento deve ser acompanhado – justamente para que possamos adaptá-lo às tendências/efeitos mercadológicos/cenários de oportunidade e de crise – de modo permanente e em prol da construção de ecossistemas organizacionais criativos, objetivos na tomada de decisões e cientes daquilo que querem conquistar.
E aqui também há um largo campo de melhorias potenciais para esse processo, uma vez que em nada menos que 49% das organizações, os líderes passam apenas um dia por mês revisando sua implementação estratégica, também segundo a Cascade – ou seja, é um olhar pouco aprofundado e que tende a perder o foco dentro do cotidiano de demandas que se acumulam dia após dia.
Essa, aliás, pode ser uma das razões que justificam o alto grau de insucesso nos planejamentos estratégicos – esse índice chega a alcançar 67%, de acordo com reportagem recente da Inc.
Para reverter esse cenário, a publicação destaca ainda a necessidade de mudarmos uma perspectiva retrógrada sobre os planos organizacionais: pois, mais do que ou um mero guia para diretores e executivos executarem ações de modo monocrático, o planejamento contemporâneo está relacionado com o ponto inicial das estratégias e uma visão – que deve perpassar todas as camadas da companhia – dos objetivos que desejam ser alcançados.
Democrático, holístico e amplo, o planejamento contínuo é, por fim, aquilo que distingue uma camisa de força que burocratiza e trava os processos inovadores de uma organização, para um modelo de gestão mais flexível, ancorado com os novos tempos da mudança.