Empreender e intraempreender: atitudes de valor com semelhanças e diferenças.

De um lado, o espírito visionário que, movido por uma ideia de negócio e propósito, assume a jornada (e os riscos) de criar uma empresa muitas vezes do zero, competindo com marcas estabelecidas no mercado e gerando valor social e econômico por meio da abertura de postos de trabalho, fortalecimento de parcerias de negócio e ofertas de produtos e serviços para nós, consumidores.

Do outro, temos a mentalidade também inovadora capaz de catalisar transformações disruptivas no ambiente interno de uma organização, contribuindo com uma visão renovada e potencialmente única sobre os processos, produtos e a cultura de um negócio.

Sim, estou falando de empreendedores e intraempreendedores, indivíduos que, a partir de um ímpeto comum de criar, transformar e inovar – muitas vezes, enxergando oportunidades onde muitos só veem obstáculos – lideram, com suas atitudes positivas, os rumos do mercado, podendo ainda influenciar não só futuros (intra)empreendedores, mas profissionais que enxergam nessa coragem, entusiasmo e proatividade, caminhos para o crescimento em uma carreira.

 

Jornadas que dialogam e que se distinguem

Fato é que, o empreendedorismo e o intraempreendedorismo podem ser vistos como dois lados de uma mesma moeda: ambos demandam visão estratégica, capacidade de resolução criativa de problemas e peito aberto para liderar – seja a condução/criação de um negócio; seja o lançamento de um produto, gestão de uma área ou projeto de transformação.

E tudo isso em face do surgimento de demandas diárias que não podem fazer com que empreendedores e intraempreendedores percam de vista seus propósitos centrais. Mas claro: estamos também falando de contextos próprios e com desafios únicos para cada um deles.

O empreendedor que inicia um negócio do zero, por exemplo, costuma trabalhar em um cenário de vasta autonomia – e essa, muitas vezes, é uma de suas principais paixões, a liberdade para conduzir um negócio segundo sua visão.

Mas ele também, naturalmente, está exposto a mais riscos e, não raro, sua jornada será a jornada de um “gestor de incertezas”, que equilibra os pratos das variações econômicas, do surgimento de concorrentes e das complexidades próprias do ambiente de negócio do país com a capacidade de transformar estes cenários em novas janelas para o crescimento e sustentabilidade financeira de seus projetos.

Já o intraempreendedor, dentro de uma organização consolidada, navega por uma estrutura pré-existente, transformando processos e impulsionando mudanças. Mas isso não significa que não haja incertezas – pelo contrário, diante das transformações do mercado, todo profissional precisa saber se adaptar frente ao oceano azul de mudanças estruturais que estamos vivenciando. A diferença é que o intraempreendedor terá de unir seu desejo de transformação com o entendimento de que, cada inovação, precisa também dialogar com as políticas, valores e outras visões que coabitam o ecossistema humano de uma empresa estabelecida.

Dito isso, ainda que cada um percorra um caminho diferente, há tantos objetivos compartilhados: a criação de valor, a inspiração de talentos, o impulso disruptivo, o senso de responsabilidade. E é esse encontro entre autonomia e colaboração, risco e segurança, que define, com nuances, as semelhanças e diferenças entre empreender e intraempreender.

 

Benefícios para a sociedade

É importante que se perceba que, na essência de muitos empreendedores e empreendedoras que conquistaram o sucesso em um mercado tão competitivo; e de intraempreendedores que se destacam no contexto ágil de mudanças do mercado de trabalho, há, para além da busca evidente e humana pelo crescimento econômico e reconhecimento, um desejo genuíno de criar o novo, de oferecer respostas para uma “dor”, uma demanda da sociedade e, com isso, de impactar positivamente na vida de todos.

Essa perspectiva, não por acaso, faz com que empresas que incentivam o intraempreendedorismo e nações que valorizam seus empreendedores sejam mais prósperas, via de regra assumindo a ponta nos rankings globais de inovação e desenvolvimento humano.

Dentro desse contexto, no Brasil, com todos os obstáculos de nosso ambiente de negócios, empreender é o maior sonho de 6 em cada 10 brasileiros, ao passo que uma pesquisa divulgada pela Forbes aponta que nada menos que 70% das inovações disruptivas do mercado são desenvolvidas por colaboradores com espírito intraempreendedor nas grandes empresas.

Com isso, não é exagero afirmar que o empreendedorismo e o intraempreenderismo são ações complementares. Enquanto o empreendedorismo movimenta mercados e fortalece a economia a partir da geração de oportunidades e riqueza, o intraempreendedorismo é uma das bases culturais que fomenta a competitividade e a abertura para mudança e inovação, sobretudo nas grandes organizações.

Aliás, essas duas forças podem e precisam atuar em conjunto: líderes que tiveram a coragem de trilhar um caminho empreendedor serão beneficiados pelo engajamento e colaboração inspiradora de intraempreendedores dispostos a contribuir com o avanço de uma organização aberta para o futuro e para o novo.