Poucos pilares são mais importantes para uma liderança do que a virtude da comunicação, não é mesmo? É possível perceber claramente esse cenário por meio de nossa experiência enquanto executivos e também quando analisamos dados de mercado recentes.
Um estudo da empresa americana Lemonly, por exemplo, constatou que, para 3 em cada 4 colaboradores, saber se comunicar de modo eficaz é o skill mais valorizado entre os atributos de um líder. Em contrapartida, há um oceano de desafios nessa busca – que nada mais é do que o poder de se conectar com o outro – haja vista que apenas um terço do ambiente corporativo contemporâneo considera que seus gestores são eficientes nesse processo.
Mas quais são as razões que tornam essa arte um objeto tão complexo para tantos líderes no Brasil e no mundo? Pensando sobre o tema e analisando algumas pesquisas sobre a questão comunicacional, acho interessante entendermos uma distinção sutil, mas a meu ver essencial, que pode determinar o espaço que separa as lideranças engajadoras daquelas que ainda tem dificuldades de se aproximar das suas equipes.
Falo da diferença entre retórica e dialética. De modo simplificado, Platão – um dos filósofos que mais teorizou sobre esses conceitos – explica que a capacidade de se expressar bem (retórica), de transmitir um discurso; não é mesmo que saber articular um diálogo em que há a “harmonia de interesses” na busca pela verdade (dialética).
E que atributo pode ser mais eficaz para a comunicação do que a verdade, a transparência, a honestidade, quando nos abrimos para o outro a ponto de compartilharmos parte de nossa essência? Isso exige humildade, coragem e a convicção de que não precisamos (nem devemos) nos esconder se quisermos, de fato, conquistar o coração, a confiança dos talentos de nossos times e liderar pelo exemplo – afinal de contas, como liderar pelo exemplo sem o sustentáculo de uma autenticidade genuína?
Dentro de seu movimento de abertura – e esse é um dos eixos centrais da reflexão que quero dividir com vocês hoje – o líder irá se deparar com o paradigma da fragilidade. Como manter a transparência em momentos nos quais, por motivos diversos, podemos estar abatidos, sentindo-se “derrotados” ou simplesmente preocupados diante de algum resultado ruim? Acredite: quando encontramos a resposta para esses contextos tão próprios da natureza humana, estamos a meio caminho do engajamento e da inspiração.
Os potes de energia
Humano, demasiado humano. Quem nunca viveu um dia de desmotivação, possivelmente, não está sendo honesto consigo mesmo. O que pode diferir, nesse sentido, é a forma como lidamos com esse sentimento. E, ao invés de encobrir nossa fragilidade, minha proposta envolve dois passos básicos:
- Buscar fontes para o reabastecimento de nossas forças – costumo usar a imagem dos “potes” de energia em minhas palestras, para me referir a aqueles elementos que nos dão ânimo e motivação para continuar, nos “colocando nos eixos”. Pode ser a família, a leitura e busca pelo conhecimento, a fé… O que importa é ter essa base de apoio e se reenergizar continuamente;
- Manter a comunicação franca e o diálogo com suas equipes – suponha que você está, de fato, em um trimestre ruim, que as metas não foram atingidas e que aquilo te abateu. Não parta pelo caminho simplório de apontar culpados. Explique que aquele é um período desafiador, mas que você acredita na força de seu time e que juntos vão sair daquele lugar. Esteja, inclusive, aberto para ouvir sugestões e fazer trocas que podem contribuir com a superação daquele cenário.
A automotivação que motiva
Por que o diálogo, em conjunto com a capacidade de olharmos para nossa essência e buscarmos as bases fundamentais que nos mantém fortes e nos impulsionam, além de permitir que não fiquemos, simplesmente, ruminando sobre um problema sem encontrar soluções, é premente para que possamos ouvir novas perspectivas capazes também de nos inspirar nesse “fluido dinâmico” – para citar outro filósofo, Empédocles – que se tece quando nos conectamos com o outro.
Quem é o líder mais forte?
Em outras palavras, o líder mais forte não é aquele que esconde suas fragilidades, mas o que tem a capacidade de dividi-la a partir de um exercício de humildade que fortalece os laços entre um gestor e sua equipe. Desse modo, você poderá escalar a torre da comunicação efetiva e, inclusive, ampliar seu poder de empatia para também identificar sinais de fragilidade em algum colaborador, pois, no fim, como diria Peter Drucker, o mais importante na comunicação é ouvir o que não foi dito.
P.S. O título desse artigo é uma homenagem ao seguidor Stenio Almeida, que dividiu ótimos insights em um post recente no qual compartilhei o vídeo que abre o presente artigo. Até a próxima!