No início da minha trajetória profissional, era predominante no mercado uma visão de sucesso que se assemelhava a uma escada: um colaborador que entrasse em uma organização como estagiário ou na base operacional do negócio seria bem-sucedido se chegasse aos postos de direção ou de executivo C-level.
Gradativamente, no entanto, esse cenário foi se transformando, graças tanto ao esforço de muitos profissionais que romperam paradigmas na construção de ambientes mais plurais e inclusivos de trabalho, quanto por meio da abertura para visões trazidas da psicologia que consideravam o sucesso não somente como uma via única do ponto A para o ponto B, mas a partir de uma leitura que entende os seres humanos como indivíduos dinâmicos, formados por um combo de aspirações, valores, metas, habilidades e interesses.
Assim, quando olhamos para nós e para o outro através dessa visão holística e diversa, não é difícil compreender que:
- Ser um profissional de destaque não depende, necessariamente, do cargo em uma hierarquia tradicional. Pessoas podem ser felizes, transformadoras e contribuírem com o crescimento de uma companhia, seja como especialistas, freelancers ou CEOs;
- O caminho, no mercado de trabalho, não é mais uma escada, mas um mapa que se transcorre por diferentes territórios (períodos de aprendizado, mudanças de carreira, imersões culturais, empreendedorismo etc.).
E aqui é interessante também observarmos que a própria noção de hierarquia é mais fluida em um mercado no qual os modelos de gestão vertical (eu mando, você obedece) estão sendo substituídos por estruturas horizontais (squads de trabalho, construção conjunta, quebra de barreiras entre lideranças e equipes). Além disso, a ideia de estabilidade não é mais sinônimo de grande meta a ser alcançada.
Sobre esse ponto, uma pesquisa da Open Study College na Inglaterra apontou que profissionais de 25 a 34 anos já haviam trabalhado, em média, em 6 empregos e que o tempo médio que passam em uma companhia é de no máximo 4 anos. Essa tendência também se percebe no Brasil: a ADP Research destacou que 4 em cada 5 brasileiros desejam mudar de carreira, com motivações que vão do interesse pelo empreendedorismo à busca de mais saúde mental nos ambientes de trabalho.
Os novos parâmetros de carreira
Todo esse processo de mudança de mentalidade e de compreensão sobre o sucesso tem gerado novos parâmetros positivos para o mercado. Combinando a análise de diferentes pesquisas, listo 7 pilares que estão movimentando o universo de trabalho e que devem estar na agenda de lideranças e de colaboradores que buscam se desenvolver ao longo de suas jornadas multifacetadas:
- Reinvenção: um estudo da Korn Ferry, “sete tendências para o mundo laboral em 2022”, alertou que, diante do novo cenário impulsionado pelo contexto pandêmico (novos modelos de trabalho, aceleração da digitalização, personalização no ambiente de consumo) líderes e colaboradores devem investir em um processo de absorção de novos skills e de abertura contínua para o conhecimento;
- As múltiplas vias da qualificação: a escassez da mão de obra qualificada persiste – no ano passado, 81% das empresas brasileiras apontaram esse desafio, segundo a ManpowerGroup. Mas é importante ressaltar que a busca pelo autodesenvolvimento deve incluir não só atributos técnicos, mas características comportamentais e os chamados soft skills (liderança, comunicação, negociação etc.);
- A busca pela saúde e harmonia: a saúde mental em ambientes que estimulem o equilíbrio dos colaboradores é uma demanda que está impulsionando transformações de carreira. Líderes que querem engajar e manter talentos no novo mercado devem trabalhar em prol de ecossistemas que consideram não apenas resultados, mas a satisfação como meta;
- O paradigma ESG: empresas mais sustentáveis, em governança e que se importam com o mundo que as rodeia atraem mais colaboradores e consumidores dentro de uma sociedade na qual 71% dos trabalhadores aceitariam mudar para um emprego com redução salarial, se fossem para uma companhia alinhada com seus valores e em que 6 em cada 10 consumidores estão dispostos a mudar os seus hábitos de compra para reduzir o impacto ambiental (Korn Ferry);
- Contínua reavaliação de valores: todos nós passamos a olhar, continuamente, para os nossos anseios. É a realidade de uma sociedade líquida na qual a estabilidade dá lugar ao individual e a construção de jornadas personalizadas de carreira;
- Diversidade: é também a sociedade em que empresas diversas e inclusivas crescem mais e são mais eficientes na resolução de problemas complexos, conforme destacado pela Korn Ferry;
- Confiança e transparência: o paradigma ESG, por fim, se traduz ainda em empresas mais transparentes (para colaboradores, stakeholders e mercado) e para as quais o sucesso também está ligado à construção de relações de confiança.
Em conclusão, o que vemos é que o sucesso, hoje, é o próprio caminhar: um caminhar que busca a abertura para um mercado mais inclusivo e no qual nossos valores devem estar alinhados com os espaços (muitas vezes transitórios) nos quais atuamos.
Este artigo foi publicado pela revista Gestão RH.