ESG: Uma percepção holística para as organizações

Uma das muitas virtudes da mudança inclui o fato de que ela abre espaço para novos conceitos, ideias e propósitos capazes de transformar positivamente toda a economia e a forma como vivemos nossos cotidianos. Dentro desse contexto, é inegável que, ao longo das últimas décadas – sobretudo a partir da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento no Rio de Janeiro (Eco-92) – o debate em torno da sustentabilidade só cresceu no Brasil e no mundo.

A pauta por um mundo mais sustentável, por sua vez, se uniu a reflexões importantes relacionadas à inclusão, diversidade e a uma maior transparência organizacional, temas que avançaram consideravelmente nas organizações, no ambiente de consumo e na própria sociedade desde que Kofi Annan, então secretário-geral da ONU, cunhou em 2005 o termo ESG (Environmental, social and corporate governance – Governança ambiental, social e corporativa, em tradução livre).

A partir de então, diversas certificações foram criadas para atestar o compromisso das empresas com a adoção de metodologias que levem em conta o ESG como um objetivo estratégico para seus negócios. Nesse sentido, é muito positivo observar que, em certos aspectos, o Brasil se posiciona como um país de vanguarda dentro desse novo ambiente de negócios global, mais preocupado com seus impactos na sociedade.

Segundo um ranking da United States Green Building, por exemplo, o Brasil já é o quinto país (de uma lista com 180 nações) com maior número de construções corporativas que contam com práticas de ESG para reduzir o desperdício de recursos e os danos ao meio ambiente.

Ademais, a expansão dos investimentos em ESG no Brasil reflete o fato de que não só eles são determinantes para a construção de um futuro mais diverso, responsável, inclusivo e que preserve o clima e o meio ambiente para as próximas gerações, mas que a preocupação com ações de governança também traz ganhos mercadológicos para as companhias.

Não à toa, segundo dados divulgados no fim do ano passado, fundos comprometidos com o Índice de Sustentabilidade Empresarial da B3 (Bolsa de Valores do Brasil), renderam 288,4% desde sua criação, em 2005. Outro dado interessante é o de que, nos fundos ligados à filosofia ESG, a representatividade feminina já é uma realidade que se expande para o mercado financeiro. De acordo com pesquisa da HFObserver, por exemplo, 49,6% é o percentual de mulheres que compõem os fundos comprometidos com a governança social, corporativa e a sustentabilidade, considerando o período de 2020 a 2021.

Mas, para que as empresas possam ser efetivas na estruturação de metodologias de ESG em suas realidades corporativas, é preciso mais do que discurso e boa vontade.

Por uma visão integral e estratégica

Como é possível inferir pelo próprio conceito, a filosofia ESG reúne uma interdisciplinaridade de conceitos que, consequentemente, exigem o esforço de uma série de áreas e profissionais para que tais processos façam, de fato, parte de toda a organização – desde as camadas operacionais até as lideranças.

Estamos falando, por exemplo, do trabalho dos líderes de recursos humanos com visão estratégica para disseminar uma cultura alinhada com os propósitos da sustentabilidade e da governança social e corporativa; de áreas de marketing e comunicação que devem transmitir esse discurso de modo alinhado para o público interno e externo; do trabalho das áreas fiscais e financeiras para o equilíbrio e transparência dos processos; do abraçar de uma filosofia ampla por cada membro de cada equipe da empresa e, por fim, da transformação da mentalidade de diretores C-Level, que devem ser os primeiros a entender a importância das ações ESG, de modo que possam absorvê-las e difundi-las.

Sim, pois só com uma visão holística e com um trabalho colaborativo (e bem distribuído de demandas entre as áreas) uma empresa poderá colher os frutos de atitudes mais coerentes com os propósitos de uma sociedade em transformação.

Uma mudança que reflete os anseios da sociedade

esse quadro de ganhos é diverso: de acordo com estudo da consultoria Isael Alliance, nada menos que 98% das companhias com iniciativas sustentáveis apontaram ganhos, que vão da redução de custos e melhoria na reputação até uma otimização da lucratividade.

Naturalmente, esses benefícios não são filhos do acaso: a sociedade contemporânea e os consumidores de modo geral estão cada vez mais atentos aos valores que uma empresa abraça e de que modo suas ações se refletem no planeta. Segundo o estudo Global Sustainability Study 2021, por exemplo, 1 em cada 3 consumidores estão dispostos a pagar mais por serviços ou produtos com preocupação sustentável.

E esse movimento, aliás, não surgiu ontem: já em 2012, a Nielsen destacou que, em todo o mundo, 66% dos consumidores preferem comprar de empresas socialmente responsáveis.

Com tudo isso, mais do que idealismo ou uma escolha, a filosofia ESG é um fator decisivo para o futuro das organizações e para as companhias que se preocupam com o legado que deixaremos para nossos filhos, netos, bisnetos… Ou, como bem disse o visionário Kofi Annan, “quem se importa, vence”. E os beneficiários somos todos nós.

 

Este artigo foi publicado pela Think Work.