Você sabia que o paradigma da disrupção não é uma novidade e que a mudança é uma das bases lógicas que regem o mercado no contexto das economias liberais? Já na primeira metade do século XX, o economista Joseph Schumpeter apresentou ao mundo o conceito de destruição criativa, segundo o qual a força da inovação transforma constantemente os padrões estabelecidos em prol do surgimento de novos produtos, serviços e modelos de produção que, em última instância, beneficiam a sociedade e o próprio ambiente de negócios global.
E, se esse imperativo já era uma realidade debatida enfaticamente nos idos dos anos 50, que dizer do contexto atual com suas revoluções 4.0, suas startups e scale-ups que surgem num piscar de olhos assumindo protagonismo no mercado e com a própria corrida tecnológica que movimenta empresas de todos os segmentos econômicos?
Para termos uma ideia, os investimentos em negócios digitais no Brasil bateram recordes em 2021 e mais que dobraram em relação a 2020, atingindo US$ 9,4 bilhões movimentados no país. Os dados são da Distrito e refletem a busca incessante por novas tecnologias (do delivery à telemedicina; das ferramentas para os ambientes híbridos de trabalho às soluções do mercado financeiro).
Por sua vez, grandes empresas também estão se movimentando para acelerarem seus processos de transformação digital. De acordo com o estudo “Combustível digital – impulsionando a transformação e o crescimento empresarial” lançado no fim do ano passado pela KPMG, 71% dos líderes de mais de 800 empresas e de 12 países apontaram os investimentos em inovação como fatores determinantes para a diferenciação competitiva, sendo que quase 50% planejaram aumentar seus orçamentos de tecnologia (enquanto outros 27% desejam pelo menos manter o volume atual de direcionamento de recursos).
Dito isso, a grande questão que me parece essencial não é se as disrupções (digitais, gerenciais e culturais) são uma realidade, mas sim, por que tantas empresas ainda resistem à transformação e preferem pôr em risco seus legados dentro de um ecossistema socioeconômico no qual, como bem observou o filósofo e sociólogo polonês, Zygmunt Bauman, “a mudança é a única coisa permanente”?
Reinventar-se é estar pronto para o imprevisível
Se assumimos como um pressuposto válido o conceito de destruição criativa, qual caminho que as empresas podem trilhar para se manterem relevantes dentro de um ambiente de negócios circundado pela inovação por todos os lados? No meu entender, a resposta está na reinvenção.
É preciso estar de olhos abertos para diferentes saídas que podem fortalecer e renovar nosso posicionamento de mercado ao longo dos anos: transformação incremental (quando melhoramos nossos produtos segundo as novas demandas de mercado); parcerias de inovação aberta (quando firmamos parcerias com startups para a criação de novos produtos/serviços/processos); novos posicionamentos de marketing e novos modelos de gestão… são diferentes as rotas que levam à reinvenção, mas, uma coisa é certa, ela se faz necessária e é aplicada constantemente pelas companhias que lideram seus segmentos.
Peguemos como exemplo a questão da inovação aberta. De 2016 a 2020, os projetos de inovação aberta cresceram 1.900% no Brasil segundo a Open Startups, dado que demonstra a preocupação das empresas em se manterem conectadas com os movimentos mais ágeis de transformação digital e disrupção tecnológica. Mas, para isso, antes de tudo, precisamos superar chavões e ideias preconcebidas que só atrapalham nosso crescimento. Há, por exemplo, um clichê que também ecoa no mercado de que “em time que está ganhando, não se mexe”.
No geral, esse velho ditado é uma desculpa para o comodismo, para não sairmos da armadilha do lugar-comum onde muitas vezes colocamos nossas empresas (e até a nós mesmos enquanto lideranças corporativas). Precisamos nos manter alertas e cientes de que sempre é possível evoluir, sempre é possível inovar. Além disso, novos elementos surgem a todo instante no ambiente externo, os quais podem exigir de nós, por consequência, novas respostas.
Quem diria, em 2019, que o mundo pararia em virtude de um vírus e que ele mudaria a forma como enxergamos as relações econômicas, sociais e de trabalho? Nesse sentido, reinventar-se é também colocar-se a postos para o imprevisível.
Alguns passos para a reinvenção
E embora não haja um mapa padrão para a transformação e reinvenção no ambiente corporativo (visto que toda empresa é única), três pontos mais gerais e comuns a esse movimento merecem ser considerados:
- A reinvenção é um movimento estratégico: como tal, ela deve envolver todas as camadas da organização e fazer parte de um planejamento macro com etapas bem desenhadas e espaço para correções de rota ao longo do processo;
- A reinvenção exige uma mudança de mindset: conforme expliquei neste artigo, além de não existir qualquer movimento sem que haja uma mudança cultural profunda, toda transformação exige novos mindsets de suas lideranças, que devem ser os primeiros a se abrirem para o novo;
- Os líderes têm um papel determinante no engajamento de suas equipes: consequentemente, os líderes também têm o papel de disseminar o espírito da reinvenção na empresa como um todo, fazendo com que as equipes abracem aquele novo ideário e implementando as mudanças necessárias (de equipes, estruturas e procedimentos) durante todo esse processo.
Finalmente, a reinvenção pode e deve ser encarada como uma necessidade permanente, pois, como vimos, a ideia de transformação contínua é um dos pilares da própria existência do mercado e conduzir os ventos da mudança é um atributo dos líderes e dos empreendedores. Ou, para citar Schumpeter, “esses indivíduos chamados empreendedores são os agentes de mudança na economia”.