Na conclusão de meu último artigo sobre o perfil das lideranças no mercado contemporâneo, indiquei a necessidade de nos atentarmos para os aspectos culturais que envolvem todo processo de transformação digital. É com esse enfoque que quero, hoje, iniciar uma nova reflexão: quão preparada está sua empresa para enfrentar os desafios de um movimento mais amplo de digitalização?
Observando o contexto do mercado brasileiro e global, é interessante avaliarmos primeiramente dois indicadores que, a meu ver, devem estar em perfeita sintonia para que possamos ter sucesso ao implementar novas tecnologias nas organizações e, consequentemente, explorarmos todos os recursos que a inovação pode oferecer as empresas.
O primeiro diz respeito ao fator investimento. De fato, a destinação de recursos para a transformação digital já é uma realidade mercadológica que, ao longo dos próximos anos, deve se expandir, consolidando-se de modo definitivo. Para termos um parâmetro deste cenário, dados da consultoria Grand View Research apontam que, até 2028, os investimentos globais em digitalização devem se expandir a uma média anual superior a 23% – o que significa sair de um patamar já robusto de US$ 336 bilhões em investimentos para mais de US$ 1,7 trilhões nos próximos 7 anos.
Por outro lado, o segundo ponto decisivo na empreitada digital das empresas diz respeito as dificuldades no processo de implementação de mudança que fazem parte do dia a dia das organizações. Já em 2017, por exemplo, um artigo da Harvard Business Review destacou que até 75% das empresas falham em seus movimentos de transformação interna.
Em outras palavras: para além da expansão (aliás, fundamental) dos investimentos em novas tecnologias, parece indispensável o desenho de trilhas para que as empresas possam vencer a própria resistência interna a mudanças. E aqui entra a questão cultural. É por meio do fortalecimento das culturas e do pleno engajamento dos colaboradores em todos os níveis de uma organização que poderemos, realmente, colher os benefícios da transformação digital.
A própria Harvard Business Review, no artigo supracitado, dá algumas pistas para o sucesso da jornada de transformação cultural incluindo, dentre outros pontos, a identificação dos focos de resistência na empresa, a capacidade de ouvirmos nossos colaboradores para entendermos seus receios/dores/desafios, além da flexibilidade para alterações de rumo em prol da construção de mudança coletiva e colaborativa.
Além disso, quando falamos de inovação, é importante considerarmos o fato de que, em muitos cenários, os líderes precisarão difundir novos conhecimentos (soft e hard skills) dentro de suas equipes, preparando-os para um dia a dia mais conectado com tecnologias digitais. E este é um esforço que envolve um trabalho conjunto das áreas de recursos humanos, diretores de departamentos, CIOs e CEOs, para que possam planejar jornadas de aprendizagem que valorizem seus times e os preparem para o futuro do mercado.
Outro ponto crucial diz respeito a integração de novos colaboradores no negócio. O report “The future of jobs”, do Fórum Econômico Mundial aponta, por exemplo, que até 2025, 97 milhões de novos postos de trabalho serão gerados graças ao processo de automação das empresas. Consequentemente, absorver as potencialidades de novos funcionários, integrá-los a uma cultura sólida e trabalhar para que o mix entre colaboradores “com mais tempo de casa e recém-chegados” gere uma troca profícua e positiva; é também um desafio das lideranças.
Por fim, não podemos esquecer que, na base de toda transformação digital há um elo entre tecnologia e seres humanos. De um lado, a inovação precisa ser assimilada para que os recursos das novas tecnologias contribuam com o crescimento das empresas. Na outra ponta, temos de fomentar o engajamento dos colaboradores, inclusive contribuindo com o desenvolvimento de novos líderes que podem ser determinantes para o sucesso de sua empresa em um futuro imerso na digitalização.
Em outras palavras: estamos falando do processo de criação de novas culturas empresariais. De uma transformação cultural que, se bem conduzida, será a base de sustentação de um mercado em que, de modo cada vez mais incisivo, pessoas e novas tecnologias caminharão juntas.